A natureza da felicidade e os mistérios dessa emoção

Neste artigo, iremos explorar os conceitos, as teorias e as práticas relacionadas à natureza da felicidade, na tentativa de entender esse estado emocional tão desejado.

Tendo em vista se tratar de uma emoção complexa e universalmente almejada por todas as pessoas ao redor do mundo, a felicidade foi estudada e buscada, desde os primórdios da humanidade.

O ser humano procura incansavelmente esse estado de plenitude e contentamento. No entanto, o que é a felicidade? Como ela pode ser alcançada e mantida em meio a um mundo repleto de desafios e adversidades?

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Fonte: Depositphotos

1. A Natureza da Felicidade

A felicidade é uma emoção subjetiva e multifacetada, o que significa que cada individuo pode percebê-la e experimenta-la de diferentes maneiras. De uma forma geral, podemos descrevê-la como um estado de contentamento, alegria e satisfação com a vida. Porém, essa definição abstrata não é suficiente para capturar toda a complexidade desse sentimento.

Desde a antiguidade, filósofos têm se dedicado a refletir sobre a natureza da felicidade. Aristóteles, por exemplo, acreditava que a felicidade era o objetivo máximo da vida humana e que ela se encontrava na realização de virtudes e no equilíbrio das emoções. Por outro lado, filósofos hedonistas, como Epicuro, argumentavam que a felicidade estava intrinsecamente ligada ao prazer e à ausência de dor.

Assim, é possível perceber que não se trata de um conceito fechado e único e que podemos definir a natureza da felicidade de diversas formas, sob diferentes aspectos.

Em decorrência disso várias teorias contemporâneas sobre a Felicidade foram desenvolvidas, das quais apresentaremos a Teoria do Bem-Estar Subjetivo e a Teoria da Autodeterminação.

2. Teoria do Bem-Estar Subjetivo

Com o avanço da ciência e da psicologia, novas formas de se explicar a natureza da felicidade bem como os fatores que a influenciam surgiram. Uma das teorias mais conhecidas é a Teoria do Bem-Estar Subjetivo, proposta por Diener e seus colegas.

A Teoria do Bem-Estar Subjetivo (BES) é uma abordagem psicológica que busca compreender a felicidade e o bem-estar a partir da perspectiva subjetiva do indivíduo. Ela se concentra na avaliação subjetiva que cada pessoa faz de sua própria vida e bem-estar emocional. De acordo com essa teoria, o bem-estar subjetivo é composto por três elementos principais: satisfação com a vida, afetos positivos e afetos negativos.

A primeira dimensão do BES é a satisfação com a vida, que se refere à percepção geral que uma pessoa tem sobre sua vida. Essa avaliação envolve a ponderação das conquistas pessoais, realizações, metas alcançadas e a qualidade das relações interpessoais. Dessa forma, a satisfação com a vida pode variar de indivíduo para indivíduo e é influenciada por fatores sociais, culturais e individuais.

A segunda dimensão é a presença de afetos positivos, que diz respeito à experiência de emoções e sentimentos positivos, tais como alegria, gratidão, serenidade e entusiasmo. Essas emoções positivas são fundamentais para o bem-estar subjetivo, pois contribuem para uma sensação de prazer e satisfação com a vida.

Por fim, a terceira dimensão é a ausência de afetos negativos, que se refere à redução ou minimização de emoções negativas, como tristeza, raiva, ansiedade e estresse. É importante notar que a ausência de emoções negativas não significa negar ou reprimir tais sentimentos, mas sim aprender a lidar com eles de forma saudável e adaptativa.

A Teoria do Bem-Estar Subjetivo tem sido amplamente estudada e aplicada em pesquisas sobre a felicidade e o ben-estar, de um modo geral, alcançando indícios da natureza da felicidade, de forma específica. Ela oferece uma abordagem holística para compreender como as pessoas percebem e avaliam sua própria felicidade, permitindo que psicólogos e pesquisadores identifiquem os fatores que mais influenciam o bem-estar subjetivo e promovam a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Além disso, essa teoria também destaca a importância de desenvolver habilidades emocionais e cognitivas que possam contribuir para uma maior satisfação com a vida e um aumento duradouro do bem-estar

3. Teoria da Autodeterminação

Outra teoria importante é a Teoria da Autodeterminação, (TAD) é uma das teorias mais influentes no campo da psicologia, especialmente no estudo da motivação humana e do bem-estar. Desenvolvida por Edward L. Deci e Richard M. Ryan na década de 1980, ela sugere que a felicidade está relacionada ao grau de autonomia, competência e conexão social que uma pessoa experimenta em sua vida. Ou seja, quanto mais as pessoas se sentem no controle de suas ações, capazes de lidar com desafios e conectadas com os outros, maior tende a ser seu nível de felicidade. Dessa forma, podemos definir essas três necessidades psicológicas fundamentais que impulsionam a motivação humana conforme abaixo:

  • Autonomia: A necessidade de autonomia refere-se ao desejo inato de ser o agente principal de suas próprias ações e decisões. É o senso de liberdade e autodireção que as pessoas buscam em suas vidas. Assim, quando as pessoas têm autonomia, sentem que suas ações são congruentes com seus valores e desejos, e têm a liberdade de fazer escolhas significativas. Por outro lado, quando a autonomia é restringida ou suprimida, pode surgir um sentimento de frustração e falta de bem-estar.
  • Competência: A necessidade de competência envolve o desejo de ser eficaz em lidar com os desafios e tarefas que se apresentam. Aliás, as pessoas têm uma tendência natural de buscar oportunidades para desenvolver e aprimorar suas habilidades e conhecimentos. Além disso, a sensação de competência é gratificante e fortalece a autoestima. Por outro lado, se as pessoas se sentem incompetentes ou incapazes, podem vivenciar emoções negativas e uma diminuição na motivação.
  • Relacionamento Social: A necessidade de relacionamento social diz respeito à busca por conexão, pertencimento e apoio emocional com outras pessoas. Acima de tudo, os seres humanos são animais sociais, e relacionamentos significativos são fundamentais para o bem-estar emocional. Dessa forma, quando as pessoas se sentem amadas, apoiadas e conectadas com os outros, experimentam maior satisfação com a vida. Por outro lado, a solidão e o isolamento podem levar a um declínio no bem-estar emocional.

De acordo com a Teoria da Autodeterminação, a satisfação dessas três necessidades básicas é essencial para a promoção da motivação intrínseca, ou seja, a motivação que surge de dentro do próprio indivíduo. Com efeito, quando uma pessoa está intrinsecamente motivada, ela se envolve em atividades e tarefas porque as considera inerentemente interessantes e gratificantes, independentemente de recompensas externas.

Por outro lado, a motivação extrínseca surge quando uma pessoa se envolve em uma atividade principalmente por causa de recompensas ou incentivos externos, como dinheiro, reconhecimento ou elogios. Embora a motivação extrínseca possa funcionar temporariamente, ela tende a ser menos sustentável e pode levar a uma diminuição da satisfação e do bem-estar a longo prazo.

A TAD também destaca a importância do clima de apoio no ambiente em que uma pessoa está inserida. A promoção da autonomia, o encorajamento da competência e o fornecimento de conexões sociais significativas são características de um clima de apoio. Quando as pessoas se sentem apoiadas em satisfazer suas necessidades psicológicas, tendem a experimentar um maior senso de bem-estar e motivação intrínseca.

Em suma, a Teoria da Autodeterminação oferece uma compreensão valiosa da motivação humana e do bem-estar, destacando a importância de satisfazer as necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência e relacionamento social. Ao aplicar essa teoria em diversos contextos, podemos compreender melhor a natureza da felicidade e promover um maior senso de bem-estar e motivação intrínseca nas pessoas, contribuindo para uma vida mais satisfatória e significativa.Parte superior do formulário

4. Fatores que Influenciam a felicidade e definem sua natureza

Uma série de fatores pode influenciar a felicidade das pessoas, e alguns deles são mais evidentes do que outros. Entre os fatores objeto de estudo e pesquisa, podemos destacar:

  • Relacionamentos Sociais: Relações saudáveis e apoio social são fundamentais para a felicidade. Dessa forma, estar cercado de amigos e familiares com quem podemos contar nos momentos de alegria e tristeza promove uma sensação de pertencimento e bem-estar emocional.
  • Saúde Física e Mental: A saúde é um fator crucial para o bem-estar emocional. Tanto a saúde física quanto a mental desempenham um papel importante na felicidade das pessoas.
  • Experiências e Não Aquisição de Bens Materiais: Embora a busca por bens materiais seja uma característica da sociedade contemporânea, pesquisas mostram que experiências, como viagens e atividades culturais, têm um impacto mais duradouro na felicidade do que a posse de objetos.
  • Resiliência e Capacidade de Lidar com Adversidades: A vida é repleta de desafios, e a capacidade de lidar com as adversidades de forma resiliente está associada a um maior bem-estar emocional.

5. Conclusão

Em resumo, podemos perceber que a felicidade é um tema vasto e complexo, que tem intrigado a humanidade ao longo dos séculos. Embora seja difícil definir com precisão o que é a felicidade e conhecer sua natureza, é possível dizer que ela se manifesta como uma combinação de fatores subjetivos, relacionados à satisfação com a vida, experiências positivas e ausência de sofrimento intenso.

Diversas teorias apresentam propostas para explicar a natureza da felicidade, desde as reflexões filosóficas da antiguidade até as abordagens científicas contemporâneas. As teorias modernas destacam a importância das relações sociais, da autodeterminação e da saúde física e mental na busca pela felicidade.

Entender a felicidade e seus determinantes é relevante não apenas para o bem-estar individual, mas também para o poder público. É a partir desse entendimento que o governo desenvolve políticas públicas, que visem a promoção da qualidade de vida das pessoas.

Contudo, é fundamental lembrar que a felicidade não é um estado permanente. A felicidade está na jornada quando aprendemos a apreciar os momentos de alegria e a enfrentar as adversidades com resiliência.

Portanto, cultivar relacionamentos saudáveis, buscar propósito na vida, cuidar da saúde e desenvolver habilidades emocionais são alguns dos caminhos que podem nos aproximar da felicidade. Entretanto, cada pessoa tem seu próprio trajeto rumo à felicidade, e o segredo está em reconhecer e valorizar as pequenas alegrias ao longo da vida.

Palavras-chave: Natureza da Felicidade, Felicidade, motivação

Escrito por Rosilene Dias Pimenta- Bacharel em Filosofia pela UnB

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