Neste artigo apresentaremos algumas considerações e sugestões para ajudar idosos a evitarem o endividamento na velhice, ou amenizarem os efeitos, quando já se encontram tomados por esse problema que assola grande parte da população economicamente ativa no Brasil.
Endividamento na velhice
O endividamento na velhice é uma questão preocupante e crescente em muitas sociedades. Com o envelhecimento da população e as mudanças nas políticas de aposentadoria, muitos idosos enfrentam dificuldades financeiras que se agravam e os levam a contrair dívidas para atender suas necessidades básicas.
As causas do endividamento na velhice podem variar, incluindo custos médicos elevados, despesas com medicamentos, aumento dos preços de bens e serviços essenciais e dificuldades com planos de saúde. Por outro lado, um problema que se tornou crônico para essa população é a prática de obter crédito de forma desordenada. Nota-se tal prática, principalmente no que se refere a empréstimos consignados e cartões de crédito, a fim de cobrir rombos no orçamento familiar.
O endividamento, nessa fase da vida pode se tornar um problema de grandes proporções, uma vez que a pessoa já não tem aumento de seus ganhos e, pelo contrário, todas as evidências indicam redução de valor à medida que o tempo passa. E o resultado de tudo isso, a médio e longo prazo, é o aumento de inadimplência.
Situação da inadimplência no Brasil – junho de 2023
De acordo com o mapa da inadimplência e renegociação de dívidas do Serasa, referente ao mês de junho de 2023, temos os seguintes dados:
- 43,78% da população brasileira encontra-se inadimplente;
- 31,13% da inadimplência refere-se a dívidas com bancos e cartões de crédito;
- 22,07% refere-se a contas básicas como: água, luz, telefone e gás;
- 18,10% do público inadimplente situa-se na faixa etária acima de 60 anos e o percentual vem crescendo;
- Somente 1,90% da faixa etária acima de 65 anos renegociou dívidas no Serasa em junho de 2023. Esse percentual mostra-se muito pequeno (quase 10 vezes menor) em relação à faixa etária de 51 a 65 anos. Isso pode significar impossibilidade extrema de pagamento, mesmo com redução de encargos e taxas.
Problemas pessoais decorrentes do endividamento na velhice
Essa situação traz problemas potenciais de grande monta, comprometendo seriamente a qualidade de vida dos idosos, principalmente, em se tratando de uma fase da vida onde o indivíduo, naturalmente, já apresenta menor resistência a problemas de saúde física e emocional.
Vejamos, por exemplo, algumas complicações que, na prática, podemos observar nessa população:
1. Alto nível de estresse – é muito difícil passar mês após mês vivendo uma sequência interminável de contas no vermelho, sem perspectivas de melhorar;
2. Ansiedade – por isso temos tantas pessoas desesperadas, que desejariam que o tempo parasse para não chegar o próximo mês e ter que viver mais um perrengue, escolhendo o que e a quem pagar, e deixando outras contas penduradas sabe-se lá até quando;
3. Irritação e agressividade – por consequência, aumentam os idosos emocionalmente alterados, desregulados, vivendo à margem da sociedade, isolados, sem o desejo de passear e conviver socialmente;
4. Vergonha – pessoas que lutaram a vida toda para prover as necessidades da família, para muitas dessas agora não lhes resta força, vigor, ânimo, motivação e saúde para ir à luta e aumentar a renda;
5. Sentimento de impotência – muitos idosos se endividam porque ainda figuram como arrimo de família, ou seja, respondem financeiramente por filhos e netos. Isso pode ocorrer por dificuldade de emprego das pessoas da família ou por situações diversas, mas acontece muito.
Em suma, o problema do endividamento na velhice causa enorme sofrimento às pessoas que passam por isso. Nos próximos tópicos vamos apresentar algumas contribuições para todos que desejam, evitar ou minimizar, esses traumas na fase de aposentadoria, caminhando para o envelhecimento.
Como evitar ou amenizar os efeitos do endividamento na velhice
Em princípio, para evitar o endividamento na velhice, é essencial adotar uma abordagem proativa durante a vida de trabalho, buscando planejar e administrar suas finanças de forma responsável, para quando chegar o momento de sair da vida ativa de trabalho esteja com as finanças equilibradas.
Em seguida, ao aposentar-se será necessário usar de muita disciplina nos gastos, tomando consciência de que desse ponto em diante não haverá mais possibilidade de conseguir promoções e aumentos regulares, mesmo que possa contar com planos de previdência complementar.
As evidências práticas demonstram que a grande maioria dos aposentados vai reduzindo seu poder de compra através do tempo, e mesmo que tenha conseguido uma boa renda mensal, as pessoas estão vivendo por mais tempo e os aumentos de preços ocorrem em descompasso com as correções dos benefícios. Cada vez mais temos indivíduos vivendo mais de 90 anos e ao invés de gozar de uma vida digna, tranquila e feliz até o final, não é isso que tem acontecido.
Com o intuito de contribuir com uma reflexão sobre esse assunto, na sequência vamos apresentar algumas sugestões que podem gerar insights e promover mudanças na vida daqueles que se sensibilizarem e desejarem criar um futuro promissor para suas vidas na velhice.
Procedimentos antes da aposentadoria
- Planeje e estabeleça um orçamento: A criação de um orçamento planejado é o primeiro passo para uma gestão financeira saudável. A saber, isso implica acompanhar as receitas e despesas possibilitando identificar oportunidades de economia, estabelecer metas financeiras e evitar gastos supérfluos. Com efeito, não existe milagre, a regra é gastar menos do que se ganha. Hábitos dessa natureza geram educação financeira, mudam costumes e preparam as pessoas para cuidarem bem das suas finanças na velhice. Se precisar de um modelo de plano de desenvolvimento pessoal clique aqui e faça adaptações.
- Construa uma reserva de emergência: Ter uma reserva financeira para emergências é essencial em qualquer fase da vida, mas torna-se ainda mais crucial durante a aposentadoria. Contar com um fundo de contingência ajuda a evitar o endividamento caso surjam despesas inesperadas. Prepare isso durante a vida ativa no trabalho.
- Elimine dívidas antes da aposentadoria: Busque quitar todas as dívidas antes de se aposentar, especialmente aquelas de altos valores, como financiamentos e empréstimos com juros elevados. Organize, também os gastos com cartões de crédito. Isso aliviará sua carga financeira na aposentadoria e permitirá que você desfrute de mais tranquilidade com folga nas despesas.
- Invista em uma previdência complementar: Se for possível, contribua para um plano de previdência privada ou fundo de pensão complementar, pois essa é uma estratégia inteligente, para aumentar seus recursos financeiros na aposentadoria. Consulte profissionais especializados para fazer a melhor escolha para o seu perfil e objetivos.
- Aumente suas habilidades e conhecimentos: Investir em educação e no aprimoramento de suas habilidades profissionais pode abrir portas para melhores oportunidades de emprego e aumentar seus rendimentos ao longo da carreira. Não se contente com pouco. Na fase mais produtiva da vida, que se situa entre 40 e 55 anos, aplique todas as suas capacidades para garantir o presente e o futuro.
- Administre a transição da ativa para a aposentadoria: Quando estiver próximo de completar o tempo de trabalho, faça uma revisão da sua situação e promova os ajustes necessários, pois isso vai fazer diferença no seu futuro.
Procedimentos durante a fase de aposentadoria
- Localize-se na nova situação: Durante os primeiros meses observe tudo e crie novas rotinas, pois sua vida mudou significativamente e será necessário estabelecer um ritmo agradável, ou no mínimo, satisfatório.
- Avalie suas condições e visualize a jornada futura: Em princípio você é um aposentado, mas pode estar muito bem de saúde e preparado para encarar novos desafios. Estabeleça novos propósitos e faça algo que permita trabalhar menos e curtir a vida, para que ela continue tendo graça e sentido.
- Cuide das finanças como um mestre: Tenha em mente que jamais poderá gastar mais do que ganha. Dessa forma você ainda poderá correr riscos imprevisíveis, mas estará mais preparado para vencer os desafios. Promova adaptações no seu estilo de vida, se for necessário.
- Planeje seu estilo de vida na aposentadoria: Faça um planejamento realista do seu estilo de vida na terceira idade. Considere suas despesas médicas, planos de saúde, lazer, moradia e outras necessidades para estabelecer um parâmetro de valor necessário para manter seu padrão de vida. Se possível, mantenha atividades que geram alegria, satisfação e bem-estar. Visite parentes e amigos, viaje se puder.
- Esteja atento aos benefícios previdenciários: Mantenha-se bem informado sobre os benefícios previdenciários aos quais você tem direito e como os valores serão reajustados, pois muitas pessoas são tomadas de surpresa quando percebem que, com o passar do tempo, os benefícios vão sendo corroídos pela inflação e pela sistemática de correção. Conhecer as regras de aposentadoria e os programas sociais disponíveis podem ajudar na manutenção do seu padrão de vida.
O pulo do gato ou regra de ouro
Após a aposentadoria, não contrair dívidas ou assumir compromissos sem planejamento seguro, principalmente os descritos a seguir:
- Evitar financiamentos e empréstimos a médio e longo prazo;
- Não contrair gastos elevados nos cartões de crédito;
- Não usar limites pré-aprovados em conta corrente bancária;
- Evitar reformas ou construções de maiores proporções;
- Não adquirir chácara, moto aquática, barco, carros antigos e outros que demandem despesas extras;
- Não emprestar dinheiro para parentes e amigos, sem critérios;
- Não fazer compras por impulso, sem avaliar a real necessidade;
- Nunca fazer outro empréstimo para pagar um que está inadimplente;
- Fugir de jogos de azar e tudo o que gera vício.
Conclusão
Assim, ao seguir essas práticas durante a vida de trabalho e na aposentadoria, você estará dando passos importantes para evitar o endividamento na velhice e garantir uma aposentadoria financeiramente capaz de manter suas necessidades até o fim da vida.
O planejamento financeiro e a disciplina são fundamentais para que você tenha o controle das suas condições de vida e evite o endividamento.
Por fim, queremos sugerir que você amplie seus conhecimentos sobre este tema. Para contribuir com esse processo de esclarecimento colocamos à disposição os links a seguir:
Guia de Educação Financeira para Pessoas Idosas – do INSS;
Educação Financeira para Idosos – da Universidade Federal do Tocantins.
Palavras- chaves: endividamento na velhice, aposentadoria, endividamento